Lançamento: “O Sumiço do Caranguejo” estreia na Escola de Ecologia

Imagem divulgação _O Sumiço do Caranguejo_

Filme da FASE-ES em parceria com a Campanha Nem Um Poço a Mais alerta sobre o impacto da indústria petrolífera em nossos manguezais. Sob a proteção de Nanã, "O Sumiço do Caranguejo” revela a realidade de quem vive os impactos do petróleo no seu território. O filme foi lançado no final de julho durante o evento internacional School of Ecology (Escola de Ecologia), organizado pela rede Oilwatch na África. Com a participação de mais de 10 países de todo o mundo, o evento de dois dias debateu proteção ambiental, transição energética e construção de poder popular.

4 de setembro de 2021
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Nos dias 27 e 28 de julho, a organização Nigeriana HOMEF, parte de Oilwatch África, organizou o evento chamado Escola de Ecologia (“School of Ecology”) onde ocorreu o lançamento do filme “O Sumiço do Caranguejo”.

 

Filme “O Sumiço do Caranguejo”

Sob a proteção de Nanã, orixá das religiões afrobrasileiras que habita os mangues, “O Sumiço do Caranguejo” revela a realidade de quem vive os impactos do petróleo no seu território e local de trabalho. Partindo dos diversos usos do mangue para os impactos da indústria petroleira nestes territórios, o filme começa pela comunidade de Campo Grande, no norte do Espírito Santo, impactada pela contaminação por rejeito de minério no Rio Doce e nos manguezais após o rompimento da barragem da Samarco, e do rompimento de um duto de petróleo de uma empresa terceirizada da Petrobras na região.

Das cenas da morte do mangue em Campo Grande o filme avança para o litoral sul de Pernambuco, onde a construção do complexo portuário e industrial de SUAPE expulsou milhares de famílias de seus territórios, destruindo 900 hectares de manguezal. No Estado da Bahia a população da Ilha de Maré, na Baía de todos os Santos, em Salvador, viu seu manguezal ser transformado em parque industrial contaminando o estuário e provocando graves problemas de saúde.

Confira o filme completo

“Um dos primeiros impactos quando acontecem esses crimes (ambientais) é o sumiço do caranguejo, então toda vez, quase todo ano, quando tem algum crime ambiental, causado principalmente pela Petrobras, a gente fica 3, 4 meses sem caranguejo, eles descem, eles se escondem. Várias famílias vivem da coleta do caranguejo, então ficam impedidas, 4, 5, 6 meses a depender da proporção do crime, ficam sem ter caranguejo”

Marizélia Lopes – marisqueira quilombola da Ilha de Maré (BA)

 

A Escola de Ecologia

“Parem de agredir a Mãe Terra”

Com essa afirmação começa o relatório sobre a Escola de Ecologia apresentado pela instituição Nigeriana HOMEF que organizou o evento nos dias 27 e 28 de julho.

Falar especificamente sobre essa edição da Escola de Ecologia pede uma rápida introdução que mencione a jogada linguística presente no tema proposto: “Shifting the Power Lines”. A língua inglesa, nesse caso, possibilita um duplo sentido difícil de reproduzir em português, mas que resume habilmente a relação entre os conceitos debatidos no evento.

Pois vejam só, seja poder (político) quanto energia (do ponto de vista físico, como energia elétrica) são representadas pela palavra “power” em inglês. Por essa razão, o tema do evento pode ser lido como “Mudando as Linhas de Energia” da mesma maneira que “Mudando as Linhas de Poder”. O que esse duplo sentido e as apresentações durante o evento escancaram é que uma real transição energética – e, por consequência, a superação da crise climática – só será possível com uma mudança nas linhas de poder, com a valorização das comunidades tradicionais e seus saberes na superação do sistema capitalista, cada dia mais opressor e degradante.

Com palestrantes Nigéria, Gana, Bolívia, Brasil, África do Sul, Suazilândia, Filipinas e Reino Unido, confira abaixo a gravação ao vivo dos eventos a cada dia com a sua programação.

Confira aqui o evento completo do dia 27 de julho

https://www.facebook.com/ecohomef/videos/158155566391775/

  • Nnimmo Bassey, diretor executivo de HOMEF, fala sobre Justiça Climática e a importância de soluções construídas na base. Sobre energia e democracia de recursos que envolvem mudanças sistêmicas nas relações de poder atuais. a ideia de mudar a linha de energia é um projeto que examina quem decide quais opções de energia devem ser adotadas e quem tem acesso às opções de energia.
  • Ken Henshaw, diretor executivo da ong nigeriana We the People, apresenta um material falando sobre economia política e alternativas de poder para os possíveis caminhos de desenvolvimento.
  • Chibeze Ezekiel, da Strategic Youth Network for Development (SYND) no Gana, fala da experiência do movimento da juventude por energia limpa e ações climáticas do SYND.
  • Nenibarini Zabbey e Pescadores da Nigéria contam um pouco sobre a situação dos manguezais em duas comunidades pesqueiras no estado de Rivers, na Nigéria, Kono e Bundu. O contraste entre as duas comunidades se dá principalmente porque Kono tem seu manguezal e modos de vida preservados, enquanto os manguezais em Bundu foram amplamente destruídos pela contaminação da indústria petroleira, poluição por plástico e extração excessiva de madeira.
  • Marcelo Calazans, da Oilwatch América Latina, falou sobre a situação dos manguezais e das ameaças à pesca pela indústria petroleira na América Latina trazendo o filme “Povos do Caranguejo”, mas também acompanhado de Alexandre Anderson, pescador e liderança da Associação de Homens e Mulheres do Mar (AHOMAR) da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, de Samuel Arregoces, da comunidade de La Guajira na Colômbia, de Andrés Gomez, do CENSAT Agua Viva Colômbia, de Fernanda Genova da Assembléia por um Mar Livre de Petroleiras, em Mar del Plata da Argentina, e de Victor Quilaqueo do OPSUR na Argentina.

 

Confira aqui o evento completo do dia 28 de julho

https://www.facebook.com/ecohomef/videos/523299888913127/

  • Cormac Cullinan, especialista em jurisprudência terrestre e advogado da África do Sul, fala sobre a farsa das soluções baseadas na natureza. Nossas respostas aos desafios ecológicos são moderadas por nossas visões de mundo, e os modelos econômicos atuais promovem a degradação da natureza. É importante que construamos uma relação saudável com a natureza e as demais espécies.
  • Enteng Bautista, da Kalikasan Peoples Network das Filipinas, apresentou a situação dos mangues em Manilla Bay e a resistência contra projetos de desenvolvimento impostos para aterrar as zonas alagadas.
  • Leon Dulce, do Advocates of Science and Technology for the People (AGHAN), continou o relatório do projeto “Histórias de Palafitas” nas Filipinas em Manilla Bay, falando também sobre outros projetos de desenvolvimento desconectados com os interesses das comunidades locais na região, como a construção de um complexo aeroportuário.
  • Thuli Makama, da Oil Change International (África), falou sobre a necessidade de erradicar o falso poder e as narrativas de desenvolvimento que são utilizadas para abrir a África para a exploração. Ela lamentou o fato de que, enquanto o mundo está se afastando da extração de combustíveis fósseis, as empresas internacionais de petróleo estão buscando agressivamente novos campos de petróleo na África.
  • Asad Rehman, diretor executivo da War on Want do Reino Unido, insistiu que, para haver uma transição energética justa, deve haver uma disposição dos países para agir, concordar em lutar por um aumento de temperatura de não mais de 1,5 graus Celsius acima do pré-níveis industriais e trabalhar ativamente para desfazer os sistemas de opressão embutidos no mundo.
  • Pablo Solón, ex-embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, falou sobre a importância das lutas em terem uma estrutura forte local, desde a base, mas com fortes mobilizações nacionais. Ele acrescentou que a transição justa não deve ser uma mera mudança de modo de energia, mas sim uma mudança que olhe holisticamente para vários aspectos da vida que garantem o bem-estar das pessoas e do planeta.

 

Leia mais

 

  • Petróleo no Estado: comunidades cortadas por dutos e contaminações. Fonte: areaslivresdepetroleo.org
  • Ativistas da Campanha Nem um Poço a Mais se reuniram na comunidade Campo Grande, em São Mateus (ES), para falar sobre os impactos da exploração de petróleo e alertar para a realização da 4ª Rodada de Acumulações Marginais da ANP. Fonte: areaslivresdepetroleo.org

 

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