João Batista Guimarães, agricultor quilombola da comunidade Angelim I, participa da IV Semana Sem Petróleo ensinando técnicas de Agroecologia

Presente nos deslocamentos de veículos, nas fibras sintéticas das roupas, nos cosméticos, nos alimentos cultivados com agrotóxicos, no gás de cozinha, nos artefatos e sacolas de plástico, o petróleo e seus derivados parecem estar em quase todos lugares em nosso cotidiano. Porém, o alerta do cientistas é urgente: para evitar o aquecimento global e suas consequências trágicas é preciso deter a queima de combustíveis fósseis.

Uma das alternativas apresentadas no evento, que acontece de 1º a 7 de setembro, é a Agroecologia, apresentada como experiência numa roda de conversa que traz, entre outros convidados, João Batista Guimarães, um legítimo agricultor quilombola de Sapê do Norte, região que abrange os municípios de São Mateus e Conceição da Barra, no Espírito Santo.

Da sexta geração da comunidade quilombola de Angelim I, João é coordenador do projeto Agroflorestando, que tem o objetivo de levar a técnica da agroecologia para os agricultores quilombolas de sua região. “A agroecologia é a técnica original dos quilombolas, que foi se perdendo depois da chegada das empresas que tomaram nossas terras para a plantação de eucalipto, na década de 60.”

João conta que antes esse território era ocupado por indígenas e quilombolas, que viviam em harmonia com a natureza, manejando a terra de forma coletiva, praticando a coleta, caça, a extração de óleo. “No princípio eram aproximadamente 200 mil hectares e 12 mil famílias quilombolas, que foram expulsas de seus territórios. Noventa por cento delas foram para as periferias de Conceição da Barra, São Mateus e Vitória.”

Na roda de conversa, que acontece na terça-feira, 1º de setembro, às 15h, e será mediada por Gustavo Roveta (doutorando em Desenvolvimento Rural na UFRGS), o agricultor quilombola vai compartilhar experiências que vem desenvolvendo em agroecologia. Trata-se de um laboratório a céu aberto com área  de 1 hectare, no qual ele utiliza a adubação verde no lugar do agrotóxico, reutilização de água de chuva, biomassa, radiestesia (técnica para descobrir água), homeopatia, o inseto que controla o próprio inseto, plantas amigas e inimigas (alelopatia e sinergia), entre outras técnicas extremamente naturais e eficientes.

Poesia para a luta

Falando no Sapê do Norte, compartilhamos também um poema de Ivny Matos escrito em 2018 em homenagem ao Sapê do Norte. Ela será responsável pela Oficina de Poesia Antipetroleira que acontece na sexta-feira (04/09) às 19h, dentro da programação da Semana Sem Petróleo.

[box] SAPÊ DO NORTE, UMA FERIDA VERDE

Existe um povo lá em cima,

cuja luta não tem fim

500 anos de suor, sangue e choro,

um grito ceifado pela motosserra

e que não encontra eco no deserto verde.

Que tamanha desgraça causaram em suas vidas,

homens, mulheres, crianças e idosos,

todos em incalculável lida!

Dormem e acordam com a luz do sol,

querem apenas a terra para plantar, colher e matar a fome da população.

E assim seguem driblando com o sorriso,

a enorme ferida aberta com o chicote da injustiça.

Ai Sapê do Norte, que mal causaste tu ao mundo,

por quê pagas preço tão alto?

Maldita ganância branca que segue desde sempre a nos sucumbir,

sugas sangue, ouro, água.

Mas, um dia tudo isso terá fim, pois morreremos de sede e fome

e seus herdeiros, brancos, lembrarão do Sapê,

do coco que tinha nome, da abóbora sagrada, das sementes tão cuidadas,

da família da jaca, do arroz, feijão de corda e amendoim.

E já não haverá tecnologia capaz de voltar atrás,

e tu nem mais precisarás de papel, oh estúpido algoz!

Em tempo, entregue a terra para quem dela sabe cuidar,

nem que seja pensando apenas no que ela pode te dar.[/box]

Sobre a Semana Sem Petróleo

Em sete dias de atividades, o evento, que está em sua quarta edição, reunirá aproximadamente 500 pessoas em mais de 60 atividades nacionais e internacionais. Serão mesas de debate, momentos místicos, oficinas, filmes, atividades infantis, apresentações artísticas, performances, enfim, atrações que compõem o grande mosaico de atividades complementares que dialogam em diversas linguagens unindo denúncias e propostas para uma sociedade pós-petroleira, que demanda mudanças políticas, energéticas e tecnológicas.

Todas as atividades são gratuitas e on line. Para participar basta acessar o link da plataforma ZOOM, da atividade correspondente, disponível no site www.areaslivresdepetroleo.org.

A Semana Sem Petróleo foi criada em 2017 em Vitória (ES), a partir das organizações que compõem a Campanha Nem Um Poço a Mais, que questiona a expansão petroleira inconsequente no Brasil diante de um planeta que vê crescerem as ameaças das consequências das mudanças climáticas.

Nas edições anteriores, aconteceram atividades presenciais no Estado do Espírito Santo, tanto na capital Vitória como em comunidades do interior e do litoral que são impactadas direta ou indiretamente pela exploração de petróleo.

Para 2020, diante da pandemia do novo coronavírus, a Campanha decidiu realizar suas atividades totalmente online para evitar aglomerações, o que possibilitou também ampliar o alcance nacional das atividades e incluir convidados internacionais de países como Nigéria, Holanda e Equador, que são referência mundial nas temáticas abordadas.

SERVIÇO:

IV Semana Sem Petróleo ON LINE

1º a 7 de Setembro 2020

Acesse a programação completa: https://areaslivresdepetroleo.org/sobre/ivsemanasempetroleo/mapa/

Site oficial: www.areaslivresdepetroleo.wordpress.com

E-mail: semanasempetroleo@gmail.com

Contato: Ivny Matos/ 27 997423181/ (whatsapp)

Redes sociais:

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