A Campanha Nem um Poço a Mais esteve presente em uma jornada de atividades na Bolívia no mês de Setembro de 2018. Foram dias de intenso intercâmbio através de oficinas, encontros, assembléia, seminário e visita ao território de Tariquía. As atividades também aconteceram nas cidades em Cochabamba e Tarija. O Brasil esteve representado pela FASE  e participaram também Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Argentina, países que compõem a Rede Oil Watch SurAmérica.  A Rede Oil Watch atua em países do Cone Sul e em Assembléia as organizações presentes reafirmaram seus compromissos com o apoio aos territórios em conflito com projetos petroleiros na América do Sul, com a visibilização de suas lutas e com a busca de caminhos para a superação da petrodependência.

Dois temas reverberaram nos encontros: A crescente expansão das fronteiras petrolíferas pela América do Sul e a violação de direitos dos povos e da natureza nessa desenfreada corrida pela exploração tanto em terra quanto em mar.

Bolívia leva quase 100 anos de história na exploração de hidrocarburos, Tarija é o epicentro destas políticas, é o estado onde a presença de atividades petrolíferas se proliferou nos últimos anos e onde hoje estão empresas como Shell, Repsol e outras que em comum acordo com o Estado estão ampliando seu alcance e se sobrepondo a territórios indígenas , camponeses e a áreas protegidas. O avanço da exploração petroleira em territórios tradicionais tem sentido a resistência das comunidades próximas e imenso desconforto mesmo das bases aliadas ao governo que se sentem traídas pelo discurso favorável aos povos originários e pela garantia do bem viver mas que na prática tem fomentado novos estudos e garantido a continuidade da exploração.

Ao conhecer a Reserva Nacional de Flora e Fauna de Tariquía, se acende o alerta e reconhecemos que a expulsão das comunidades indígenas e camponesas que vivem em meio ou próximo das atividades petroleiras é processo em expansão e se aprofunda com características muito parecidas em nossos países latinoamericanos.

Tariquía, é uma reserva natural atravessada por quatro blocos de empresas como PETROBRAS e BG. Muitas pessoas das comunidades enfrentam e resistem agora à máquina estatal  que além de permiti abrir legalmente áreas protegidas a atividades petroleiras, atualmente trata de convencer as comunidades sobre os benefícios que hipoteticamente chegariam com ditas atividades: dinheiro – progresso e desenvolvimento.

Evo Morales inclusive vem pedindo as comunidades do lugar que não criem obstáculos, para Paula Gareca dirigente local “o governo não nos escuta realmente e por isso levaremos nossas reclamações a organismos internacionais para continuar com a defesa de Tariquia, já que a reserva é que dá vida, ar limpo a nível local e a nível nacional”.

As narrativas sobre conjuntura nacional dos movimentos sociais dos países presentes trazem em comum além do avanço da direita, os fracassos das esquerdas que chegaram ao poder executivo e a complexidade que traz o tema das matrizes energéticas contaminantes. O Observatorio Petrolero Sur – OPSUR da  Argentina que trouxe valiosas informações sobre o fracking na América Latina, a Acción Ecológica do Equador sobre a iniciativa Yasuní e o longo caminho para deixar o petróleo no subsolo, o  Observatório de Ecologia Política da Venezuela tratando do risco da petrodependência e do caso de Venezuela,  CENSAT Água Viva da COLOMBIA apresentou propostas de transição energética e escutamos sobre a reonfiguração petroleira na Bolívia através de CEDIB – Centro de Documentação, à FASE e a Campanha ficou a responsabilidade em trazer dados e informações sobre o processo em curso para a exploação do PRÉ-SAL.

 

A semelhança na chegada, abordagem, exploração e passivos nos une, tantas histórias e tão símiles, estamos conectados pelo movimento global da petrodependência que para garantir um modo de vida insustentável e falido de consumo e contaminação segue identificando e atacando paraísos preciosos, mantidos vivos e protegidos pelas comunidades ao seu redor, em geral de base rural, agricultura familiar e profunda relação com os elementais.