As Águas
Água é mais que rio, mar e chuva, é também memória, cura e identidade. Durante a IV Semana Sem Petróleo em 2020, Kate Parker conduziu uma Performance Curativa partindo das águas entre as margens, subindo à fonte e depois indo em direção ao mar. Uma meditação corporal para navegar sua partida-nascente, paisagem-leito, trajetória-rio, até seu destino-mar, em um convite a refletir e cuidar das águas, não só as que vemos, mas também as que estão dentro de nós.
O que é água?
Tá no rio, tá no mar, na torneira e na cachoeira. Cai em forma de chuva, cai em forma de gelo, fica por aí em vapor. Faz a árvore, faz a flor e faz a gente. Abriga peixe, sustenta barco, mata sede. Cobre o planeta, forra o céu, enche, esvazia, segue seus caminhos. É que dá pra ser muito simples ou muito complexo com a água, é um corpo físico ao alcance do toque, mas é também imensidão que engole tudo, força que escolhe sozinha se destrói, constrói ou reconstrói.
Água é mais que um instrumento, mais que um meio, é também símbolo e força que tem valor sozinha. Água benze, cura e purifica, mas também transforma paisagens e cria memórias. É um patrimônio cultural coletivo. Água está presente na pesca, mas também nos portos, e na exploração offshore, mas a relação com ela é diferente, o pescador respeita a água, ouve seu canto, respeita a sua força.
Na IV Semana Sem Petróleo em 2020, três vivências foram realizadas pela Kate Parker para uma performance curativa chamada As Águas. Começando pelas margens, retornando à fonte e enfim desembocando no mar, as meditações corporais foram inspiradas nas características curativas, expressivas e simbólicas da água.
Para seguir as atividades você irá precisar de:
- uma bacia ou panela com água da torneira,
- um copo com água filtrada,
- 3 pedaços de barbante ou fita azul de mais ou menos 2 metros cada,
- papel,
- caneta ou canetinha.
Vamos cuidar das águas!
Entre Margens
“O rio não é o mesmo. Perceba. Depois que se passa um segundo são outras águas. O rio flui, o rio segue, o rio corre e continua. O rio acolhe o córrego, ganha riacho, se faz cachoeira. O rio se espalha, transborda, o rio vivifica, embeleza, trás prosperidade e continua sendo rio. Fluindo, correndo, continuando.Respire e sinta, sinta esse rio. O rio não tem nome, quem tem nome são as margens, porque o rio que estava aqui agora, já não está mais. O rio prossegue, ele não pertence a nenhum lugar que não seja mar. Ele é só destino, o rio é um buscador.
A luz do sol atravessa o rio e desenha o fundo através das águas. Ainda de olhos fechados, mergulhe, perceba: o rio que está agora não é o mesmo de quando a luz atravessou a superfície. O rio segue, ele não pára, não recua nem volta atrás. O rio tem sentido, o rio faz sentido, ele sabe que sentido ele tem.
O rio conhece sua origem, ele está certo do seu destino, não questiona, não duvida. O rio flui.O rio gera vida, produz beleza, mas não pára para receber gratidão ou elogio. O rio segue, o rio sabe que o seu papel se faz com sua trajetória de vida. E sabendo que o mar o espera, o mar espera inteiro, profundo e materno, o rio flui.”
Kate Parker
Fonte
“Agora, fazemos um trabalho de contemplação, observar a água. Nessa água estão representados os aspectos relativos e absolutos do ser. A superfície é como as ondas do mar. Ativas e em eterna mutação.
Perceba ao observar a superfícies dessa água que existem aspectos relativos a nossa vida também. Observe nessa água o reflexo do seu rosto e perceba que seu rosto e corpo e corpos – também o seu corpo não material, emocional – são aspectos do seu ser.Depois tente atravessar essa água. Conduza seus olhos através dessa fina camada de luz e vá até o fundo, é ali que estão seus aspectos absolutos da vida. Podemos comparar com o oceano, é nas profundezas do oceano que encontramos seu aspecto imutável e eterno. Às vezes é difícil fazer essa observação porque a superfície fica tirando a gente desse olhar mais profundo e precisamos voltar a colocar nosso olhar naquilo que é absoluto.”
Kate Parker
Mar
“Se entregar ao mar. Ninguém nasceu pra si, mas pelo mundo.
Escreva seu nome na água e veja a água apagar o seu nome, veja suas bagagens pesadas e expectativas ficaram pra trás, ficando apenas as experiências.
Escreva novamente a data do seu nascimento, veja a água desmanchar os números, o nome do mês, o ano. Deixa a água desmanchar. Esqueça o tempo de vida. Você não é jovem, nem velho, você é infinito.
Escreva o lugar onde você nasceu, o espaço em que você chegou a esse planeta. Veja esse nome se apagando, liberte-se de sua nacionalidade, de barreiras e fronteiras, de divisões, você é planetário. Deixe a essência do que você é.
No mar, nenhuma gota é mais especial que outra. Meu propósito não é ser gota, meu propósito é ser mar.”
Kate Parker
Olhar para nossas águas internas pode ser um caminho para entender também as que nos circundam externamente. Assim pensar nas agressões sofridas cotidianamente pelas grandes infraestruturas em prol do desenvolvimento e a necessidade de delimitar essas ações para respeitar os limites e os direitos da Água.
O chamado para cuidar das águas, vem das águas dentro de nós.
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