Depois não adianta chorar
Noêmia Magalhães, uma das atingidas pelo Porto de Açu (RJ) esteve no encontro realizado para debater a construção do Porto Central em Presidente Kennedy, no Sul do Espírito Santo, e trouxe mensagens de resistência para a população local.
O relato de Noêmia Magalhães, atingida pelo Porto de Açu (RJ)
A mineira Noêmia e seu marido Valmir trocaram Minas Gerais pelo Rio de Janeiro, para realizar o sonho de comprar um sítio, viver da terra, praticando a agroecologia e desfrutando de paz. Dezesseis anos depois, o sonho transformou-se em pesadelo com a chegada do Porto de Açu à região.
Como ela mesmo reconhece:
“Não vou mentir pra vocês, ficamos muito felizes com a ideia. O que foi passado pra gente é que iria resolver todos os nossos problemas. Nós conversávamos, não existia política pública para a agricultura nem pro pescador. O que a gente imaginou? Vem este porto, vão asfaltar as estradas, vai ser mais fácil, o pescador vai vender seu peixe, o agricultor vai poder colocar uma barraca na estrada e vender sua produção, nós vamos ser muito valorizados. Ai, gente. Que pensamento triste foi o nosso. 11 anos depois estamos pagando um preço muito alto por ter acreditado nisso.“
A chegada do porto foi extremamente agressiva. Num apagar das luzes, a câmara de vereadores de São João da Barra alterou o status de uma grande faixa de terra no município, onde viviam 1.500 famílias que se dedicavam à agricultura familiar, à pesca e à criação de gado. Da noite pro dia, a área onde viviam estas famílias deixou de ser distrito rural, passando a ser considerado distrito industrial, permitindo a expulsão destas famílias, a maioria delas até hoje, sem receber nenhuma indenização. O sítio do Birica, onde Noêmia e o marido vivem, hoje está ilhado.
“Hoje eu moro num lugar em que num raio de 20 km não mora mais ninguém, tiraram todas as casas, todas foram destruídas. Eu estou ali cercada por eles. No início eu pensei que iria enlouquecer. Eu antes abria a janela de manhã e sempre tinha os pássaros, as flores e de repente eu passei a ver 3 seguranças montados nos cavalos. Estes seguranças eram trabalhadores que perderam suas terras e foram obrigados a aceitar trabalho de segurança. Antes, na frente da minha casa passavam apenas alguns poucos agricultores que viviam ao redor. Hoje são mais de 5 mil veículos por dia, transportando todo tipo de materiais pesados e poluentes, além das máquinas que não param de fazer barulho retirando areia.”
Noêmia e outras pessoas atingidas pelo porto de Açu, criaram a Asprim – Associação de Proprietários Rurais e de Imóveis de São João da Barra:
“Eu estou há 11 anos nesta luta, até hoje estou tentando pensar no benefício que este porto trouxe para São João da Barra. Para prefeitura parece que são 2 milhões por dia de arrecadação, mas pra população, nada. Não foi feito nenhum hospital, nenhuma escola, nada para atendimento do povo. Os solos estão salinizados, a areia retirada na dragagem do canal do porto contaminou os lençóis freáticos. Os agricultores se tornaram sem terras e são obrigados a alugar terra para plantar ou para criar seu gado. A vida se tornou um inferno para eles e suas famílias. E o pior: a maior parte das terras que foram tomadas pelo porto não estão sendo utilizadas, enquanto as famílias que ali viviam não possuem mais terra para plantar, para cuidar do gado ou para viver. É um absurdo, dos maiores que o Brasil já viu acontecer neste século”
Algumas mentiras criadas pelo porto
“Não acreditem em nada do que eles prometerem. Por que eles não cumprem nenhuma promessa. As pessoas investiram em comércios, logo se empolgaram, fizeram pousadas, hotéis, restaurantes, acreditando que o movimento trazido pelo porto iria pagar seus investimentos. Mas agora, o próprio porto está construindo hotel, padaria, restaurante perto da entrada do porto. E aqueles comerciantes que investiram todas as suas economias, ou pegaram empréstimos pra construir hotéis e restaurantes estão todos quebrados, não estão conseguindo pagar os investimentos.
Lá em Açu não sobrou nada para a população e não se iludam: aqui também não vai sobrar nada além de sofrimento, dor, injustiça e humilhação.
Ela se despede de todos e todas com palavras de estímulo: Eu queria dar um abraço em cada um e dizer que tenham força. A gente só é forte se a gente se juntar, se der as mãos, se acreditar que podemos vencer.”
Noêmia fechou sua apresentação com um vídeo poema, que descreve ´a dor e a alegria de ser o que é´.
Para saber mais, clique aqui: https://blogdopedlowski.com/tag/noemia-magalhaes/
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