Editorial: Economia verde, economia petroleira e petrodependência
Não há contradição entre a economia verde e a economia petroleira. Ao contrário, há uma relação viciada de simbiose e tóxica complementaridade. Afinal, na falsa métrica de equivalência entre moléculas, quanto mais petróleo na atmosfera, tanto mais Carbono a ser negociado pelas empresas da economia verde: celulose, siderurgia e suas eucalipto plantations, hidrelétricas, eólicas, agrocombustíveis,[...]
Não há contradição entre a economia verde e a economia petroleira. Ao contrário, há uma relação viciada de simbiose e tóxica complementaridade.
Afinal, na falsa métrica de equivalência entre moléculas, quanto mais petróleo na atmosfera, tanto mais Carbono a ser negociado pelas empresas da economia verde: celulose, siderurgia e suas eucalipto plantations, hidrelétricas, eólicas, agrocombustíveis, biomassa, geoengenharia e todas essas falsas soluções da economia verde, disfarçadas como Carbono Neutro.
Não por acaso, a indústria petroleira e empresas como a Shell, a Chevron, ExxonMobil, Total, Equinor, Petrobras etc seguem como importantes atores globais da falsa transição energética que negociam em Glasgow, na vigésima sexta COP do Clima (COP26).
As mesmas que, na América Latina, devastam o Atlântico Sul, no Brasil, na bacia do Rio Amazonas, no Nordeste, na região do pré-sal, em Mar del Plata, na Argentina, na Amazônia equatoriana e boliviana, na Costa Norte do Pacífico Peruano, o Caribe.
Em um transitar que nada transforma de fundamental, a economia verde se amplia na equivalente expansão da indústria petroleira, violando duplamente os direitos das comunidades tradicionais, os direitos humanos e direitos da natureza.
Por um lado, a indústria petroleira expropria e contamina os territórios naturais, submetidos à condição de zonas de sacrifício da extração, do transporte, armazenamento e do refino do petróleo. Por outro, coloniza os territórios mentais, submetendo a vida social a níveis cada vez maiores de petrodependência.
A petrodependência opera, então, como vício. E não apenas quando relacionada aos combustíveis fósseis, que seguem movendo navios, aviões, tratores, termelétricas e a civilização urbano-industrial do automóvel e do asfalto. A petrodependência também segue como epidemia social, na contaminação dos alimentos, das terras e águas, por fertilizantes químicos. No lixo plástico que polui os oceanos e rios e periferias urbanas. Nos cosméticos petroleiros que contaminam os corpos. Nas tintas e lubrificantes.
Concentrando-se na falsa equivalência entre moléculas de CO2, os Estados e as corporações globais que fazem negócios na COP 26 se desviam da responsabilidade histórica e postergam as reais ações de enfrentamento da crise climática e ambiental. Não reduzem a extração de petróleo, em barris equivalentes. Não demarcam os territórios tradicionais. Não protegem a natureza. Não têm nem um plano de transição justa, para outras formas de vida social. A civilização petroleira, genocida e ecocidas, precisa ser detida.
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