Emergência Ambiental e Climática: o problema hoje não é a emissão de carbono!
A 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) vem aí, e junto à rede Oilwatch na América Latina temos algo a dizer: “O debate do clima não é sobre moléculas de carbono: É urgente deixar as energias fósseis enterradas para sempre!” Confira uma rápida introdução ao tema da crise ambiental e climática e a razão pela qual falar apenas sobre emissões de carbono é problemático.
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Fazendo uma rápida chuva de ideias sobre os maiores problemas ambientais que estamos enfrentando nos últimos anos, o que vem a sua mente?
Imagino que deva ter entrado na lista a imensa quantidade de lixo plástico nos oceanos se degradando em microplástico que ingerimos diariamente, ou as secas cada vez mais frequentes, o desaparecimento de tantas espécies animais e vegetais, o desmatamento avassalador em curso pelas florestas no mundo todo, a contaminação de solos, rios e lençóis freáticos pelo uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, o empobrecimento do solo, as ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas, e podemos continuar ainda por muitos parágrafos.
De acordo com um estudo publicado em 2009 na revista Nature, existem nove áreas essenciais que devem ter seus limites respeitados para a manutenção da vida saudável no planeta Terra:
Como é possível ver no esquema acima, as mudanças climáticas são apenas um dos nove processos biofísicos essenciais para se manter o meio ambiente em equilíbrio, e assim possibilitar a vida humana no planeta Terra. Entretanto, as notícias ambientais de hoje se concentram no risco do aquecimento global e na importância de equilibrar as emissões de carbono para a manutenção dessa crise.
Neste mês de novembro, acontecerá a 26a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em Glasgow, na Escócia, reunindo líderes de 196 países para discutir e buscar soluções para a emergência climática. Esse é o maior evento no mundo para o tema, mas o foco principal é baseado em estudos sobre emissões de carbono equivalente.
Nesta matéria você encontra uma rápida introdução ao tema da crise ambiental e climática e a razão pela qual falar apenas sobre emissões de carbono é problemático.
O que são as mudanças climáticas?
As mudanças climáticas são as consequências do excessivo e rápido aquecimento global que o planeta vem sofrendo nos últimos 50 anos, ou seja, da consequência do excesso de emissões de gases de efeito estufa (GEEs) além do que as florestas e os oceanos são capazes de absorver. O efeito estufa e o aquecimento do planeta é um processo natural e o que permite que não vivamos na era do gelo.
Funciona mais ou menos assim: o calor do sol passa pela atmosfera terrestre para nos aquecer, e os gases de efeito estufa impedem que todo esse calor saia de uma vez só, mantendo a temperatura no planeta estável.
Fonte da imagem: Clima em curso https://www.climaemcurso.com.br/blog/category/efeito-estufa/
Acontece que as atividades humanas de queima de energias fósseis como o carvão, petróleo e gás, começaram a aumentar vertiginosamente os níveis dos gases de efeito estufa em pouquíssimo tempo. A última vez que o planeta terra teve níveis tão elevados de dióxido de carbono (o principal gás de efeito estufa) na atmosfera foi há mais de 3 milhões de anos.
Fonte: https://www.sealevel.info/co2.html
Como consequência, a temperatura do planeta está cada vez mais alta, alterando uma série de processos naturais do planeta que estão conectados. Oceanos mais quentes implicam na morte de corais, essenciais para a manutenção da fauna marinha, geleiras estão derretendo e, com isso, o nível dos oceanos está subindo, arriscando o desaparecimento de tantos territórios e ilhas, fenômenos ambientais como enchentes, tempestades, furacões cada vez mais constantes.
Fonte BBC: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58924904
Essa realidade é inegável, mas qual é a principal causa da emergência ambiental e climática?
A elevação dos níveis de dióxido de carbono no planeta ou a obsessão capitalista com o crescimento econômico e o consumo desenfreado que causou essa elevação das emissões por sua vez?
Lembremos que não é só a emissão de gases que causa problemas ambientais, as monoculturas de soja e algodão, e o desmatamento para abrir hectares e hectares de pastagem por sua vez contribuem com a crise hídrica no Brasil e a assustadora tempestade de areia que ocorreu em outubro. As monoculturas contribuem para a desertificação e o empobrecimento do solo que ameaça a capacidade de produção de alimentos no planeta. Os vazamentos químicos das indústrias petroleiras, o lixo tóxico, o microplástico, a pesca industrial predatória contribuem para a morte de espécies fundamentais para a manutenção da fauna equilíbrio marinho. Mesmo a internet e o conteúdo online que consumimos 24 horas por dia contribui com a emergência ambiental, uma vez que requer grande extração mineral e uma quantidade de energia assustadora para manter os servidores físicos emitindo constantes ondas de calor.
A principal causa de desequilíbrio no planeta é o modelo de vida capitalista, centrado nas cidades, conectado 24 horas por dia à internet, exigindo um nível de produção incompatível com um ser humano e planeta saudável.
Quais as principais soluções que estão sendo discutidas mundialmente?
Na contramão deste diagnóstico, as soluções climáticas em debate se concentram em mecanismos que podem dar uma sobrevida à exploração da natureza pelo capitalismo. A manipulação do ciclo de carbono, processo natural do planeta, para a contabilização mundial de atividades que “sequestram” e aquelas que emitem carbono, é utilizada como uma estratégia para que se continue emitindo e ainda se crie um novo mercado para a acumulação de capital: o mercado de carbono.
Nessa lógica, começam a se contabilizar até mesmo as emissões “evitadas” por não desmatar uma floresta, ou aquelas absorvidas por uma planta de soja que cresce em uma monocultura. Somente uma visão talmente reducionista é capaz de considerar como solução para um problema a causa de tantos outros. É o caso das monoculturas de árvores como negócio altamente rentável para esse mercado. Em uma só tacada se torna não só possível, como também sustentável, continuar a exploração de petróleo e os cultivos transgênicos e repletos de agrotóxicos do eucalipto.
Retomando as nove áreas essenciais para ter o planeta terra em equilíbrio, o mercado de carbono como solução para as mudanças climáticas consegue estimular por ignorância a interferência nos ciclos globais de fósforo e nitrogênio, o uso de água doce mundial, a concentração fundiária e empobrecimento de uso do solo, a taxa de perda de biodiversidade e a poluição química. Ou seja, piorar a situação de outras cinco áreas fundamentais de serem mantidas em equilíbrio.
Se a crise ambiental é sistêmica, por que se fala só em emissões de carbono?
Porque é lucrativo. Simplificar a crise ambiental e climática em emissões de carbono que podem ser compensadas, não só permite que grandes empresas e países poluidores possam continuar poluindo e violando direitos das comunidades afetadas, mas também que uma nova forma de ganhar e movimentar dinheiro pelo mundo seja criada.
Não é pelo meio ambiente, não é por uma real solução para a crise climática, mas por uma maior acumulação de capital.
Basta!
Ver a emergência ambiental como uma simples equação onde se deve equalizar emissões com absorção de carbono ignora completamente todas as outras ações que prejudicam o planeta e seus povos.
Sintomas de uma Terra doente, mas um planeta que tem um funcionamento sistêmico, não poderia ter uma solução tão simplista quando atingir a neutralidade de carbono
O debate do clima não é sobre moléculas de carbono: É urgente deixar as energias fósseis enterradas para sempre!
A Campanha Nem Um Poço a Mais!, parte da rede antipetroleira Oilwatch na América Latina, convida as organizações parceiras da Campanha à assinar a declaração afirmando que “O debate do clima não é sobre moléculas de carbono: É urgente deixar as energias fósseis enterradas para sempre!”.
Clicando aqui você pode ler a declaração completa e assiná-la aqui.
A extração, queima e uso de combustíveis fósseis é a principal causa da crise climática! Concentrar o debate de soluções na quantificação das emissões de carbono serve apenas para criar um novo mercado de compra e venda que beneficiará as petroleiras e os governos do Norte global, mantendo as comunidades impactadas reféns da exploração petroleira.
O carvão, petróleo e gás devem ser deixados no subsolo! Não às falsas soluções!
Durante o VI Seminário da Campanha Nem Um Poço a Mais! dois painéis trataram da emergência ambiental e climática e você pode conferir abaixo:
Painel 7: Indústria petroleira, Emergência Climática e Resistência Global
A indústria petroleira e a queima de combustíveis fósseis são as principais responsáveis pelo aquecimento do clima do planeta. São também os principais obstáculos para a redução efetiva das emissões globais, e promotores das falsas soluções, como o mercado de carbono e a financeirização da natureza. Neste painel, ativistas e pesquisadores de África, Equador e EUA debatem a irresponsabilidade das petroleiras e das políticas sobre o clima e apontam caminhos de resistência.
Com Ivonne Yanez (Acción Ecologica / Equador – 04:45), Tamra Gilbertson (University of Tenessee / EUA – 30:00), Nnimmo Bassey (Homef /Oilwatch / Nigeria – 1:01:45 ). Com mediação de Marcelo Calazans (FASE – ES / Oilwatch Latinoamerica) e tradução de Lobo Pasolini.
Painel 8: Mudanças Climáticas e Transição Energética no Brasil
Quais os principais efeitos do aquecimento global no Brasil? Quais os grupos, classes sociais, comunidades que mais sofrem seus impactos? Quais são as políticas públicas? Como e onde são definidas? Qual o lugar do Brasil nas negociações internacionais do clima? O que esperar do governo Bolsonaro, que nega o aquecimento global e exacerba o racismo ambiental? Quais redes da sociedade civil e fóruns nacionais estão diretamente envolvidos na resistência e na construção de alternativas de transição? Este painel traz pesquisadores, parlamentar e ativistas do debate climático no Brasil. Nos chama ao engajamento por Justiça Climática e nos convida para o horizonte da transição: de energia, de modo de vida, de superação do capitalismo petroleiro.
Com Alexandre Araújo Costa (UECE – 08:30 ), Maureen Santos (Grupo Carta de Belém / FASE – 25:00 ), Ivo Poletto (FMCJS – 49:55 ) e Renato Cinco (Vereador pelo PSOL – RJ – 1:46:06 ). Mediação de Pedro Aranha (Coalizão pelo Clima RJ).
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Na COP, Conferência do Clima, enquanto os governos e as empresas apresentam ao mundo, pela 28a vez, seus vagos compromissos contra o aquecimento global, em todo planeta segue acelerada a expansão da indústria petroleira e da sociedade petrodependente.
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Em nome do desenvolvimento e do progresso, do emprego e do crescimento econômico acelerado, a indústria petroleira devasta Sergipe.
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