SEMINÁRIO “NEM UM POÇO A MAIS” DENUNCIA AÇÃO DE PETROLEIRAS
O Seminário promoveu dois dias de giros por territórios quilombolas de Brejo Grande, no estado do Sergipe
Representantes de nove estados da federação (Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Maranhão, Ceará e Pará), marcaram presença no VIII Seminário “Nem Um Poço a Mais”. E três representantes de lutas e resistências anti petroleiras de países na América Latina também participaram vindos da Argentina (Assembleia Mar Livre de Petroleiras), Equador (Oilwatch e Acción Ecológica – Equador) e Honduras (Associação Nacional para o Fomento da Agricultura Agroecológica – ANAFAE).
O Seminário promoveu dois dias de giros por territórios quilombolas de Brejo Grande, no estado do Sergipe, visitando comunidades afetadas pela indústria petroleira: como Atalaia do Norte (plataformas abandonadas da Petrobras), Barra dos Coqueiros (plataformas, termelétricas e eólicas) e Carmópolis (poços maduros da Carmo Energy) e ainda em Resina (Exxon Mobil na foz do rio São Francisco), Santa Cruz e Carapitanga (contaminação por exploração terrestre de petróleo). Eles visitaram ainda áreas do município de Brejo Grande, onde há o conflito em territórios quilombolas que lutam pela sua titulação e produtores de camarão criados em cativeiro (carnicicultura).
“Foi fundamental para os participantes estarem em diversos territórios e comunidades visitadas, conhecendo e debatendo os impactos da indústria petroleira nos territórios, nos corpos e nos modos de vida locais.”, comenta Flávia Bernardes, Educadora da FASE-ES. “Comunidades esvaziadas, a falta de equipamentos públicos básicos, a ausênca de água encanada e de qualidade, a insegurança das lideranças, a contaminação, a coação e cooptação que divide comunidades são alguns dos muitos danos gerados pela expansão da indústria de petróleo e gás, seja pela exploração em terra e mar, suas estruturas como portos, dutos termelétricas ou por suas falsas soluções para a transição energética. O “giro” é uma ferramenta para que as populações se conectem e se reconheçam em suas singularidades e resistências, para que fortaleçam suas lutas e deem visibilidade aos danos irreversíveis gerados por uma indústria que precisa urgentemente ser freada.”, completa.
Nas visitas, os representantes puderam conhecer o maior campo de petróleo em terra do país, na cidade de Carmópolis. A contaminação das águas superficiais e subterrâneas é uma rotina está em todos os lugares. Em pouco menos de meia hora de trajeto em Carmópolis, ao chegarem em frente à estação Coletora Nova Magalhães, eles presenciaram uma equipe de funcionários tentando conter um vazamento em um curso d’água. Poucos quilômetros à frente, um córrego com petróleo e poucas boias de contenção.
De acordo com moradores nenhum destes “pequenos” vazamentos são informados para a população´, somente os maiores e notados pela população são notificados. Segundo eles os vazamentos são invisibilizados para que os moradores não saibam a extensão do impacto que sofrem diariamente na região
“É muito importante esse evento, para que a gente possa nos fortalecer, divulgar que não estamos só, existem outros territórios, outras comunidades sofrendo e sendo impactadas também e que a luta não é só de um território, essa luta é coletiva”, afirma Marisa Izalltina Santos, quilombola do território Brejão dos Negros. “Estamos em luta, estamos em defesa pelos territórios de vidas, onde nossos ancestrais viveram, sofreram e foram embora para o plano astral sem nenhuma perspectiva de mudança. E hoje nós estamos aqui com muita esperança por dias melhores e por esse reconhecimento.” conclui.
Em Carapitanga também há uma estação coletora de petróleo que impacta diretamente os recursos hídricos na região. Lá se repete a história vista no Espírito Santo com a venda de poços maduros da Petrobras para empresas menores, com menor capacidade técnica e que consequentemente geram ainda mais vazamentos.
A preocupação com a qualidade das águas é evidenciada também em Resina, na foz do Rio São Francisco, onde a Exxon Mobil quer instalar 11 poços de petróleo. Mesmo sem uma licença, a empresa assedia comunidades gerando rupturas e tensão entre as famílias da região. Na mesma cidade, que vive da produção de arroz, do turismo comunitário e da pesca, já existem impactos da carcinicultura que adoece o pescado que frequentemente não serve mais para o consumo. Tais impactos, nesta e nas demais comunidades visitadas recaem, sobretudo, sobre a vida das mulheres. Foram muitos os relatos de adoecimento, cânceres, doenças psicossomáticas e outras ameaças aos corpos das mulheres.
Nos dois dias que se seguiram, estiveram presentes na comunidade de Santa Cruz, no Território quilombola de Brejão dos Negros, organizados em Grupos de Trabalho com os seguintes temas: mobilizar e Comunicar – (visibilização das lutas e comunicação com a sociedade); proteger – estratégias de proteção coletiva e individual; criar Barreiras – diferentes formas de enfrentar a expansão desta indústria e os danos socioambientais provocados por ela; e transitar – combater as falsas propostas de transição energética. O objetivo geral foi traçar estratégias conjuntas para frear a expansão petroleira e garantir a proteção dos territórios, comunidades e modos de vida dos territórios explorados.
“Há um crescimento desordenado na exploração de petróleo em diversos estados do Brasil, até então só tinha presenciado a do Espírito Santo, mas com a FASE pude conhecer a situação atual de Sergipe, e é realmente assustador. Com mais ou menos 80 pessoas chegando para visitar a comunidade de Brejo Grande, povo quilombola. Pessoas que os pais e avós nasceram ali e hoje estão na luta para conseguir manter pelo menos no seu lugar. Com o direito de respirar um ar puro e ter liberdade para plantar, e infelizmente estão tentando tirar isso deles.” denuncia, Manoel Bueno, conhecido como Nego da Pesca, presidente da Federação das Associações de Pescadores do Espírito Santo
Tantos relatos somados às experiências do Equador -que acaba de aprovar em plebiscito de não exploração de petróleo em Yasuní, área considerada como a mais biodiversa do mundo; a luta por um mar livre de petróleo na costa da Argentina, e a ameaça de exploração de petróleo em Honduras nos traçaram enorme conjuntura sobre a expansão da indústria de petróleo e gás, suas enganosas justificativas para seguir expandindo, suas falsas soluções para o clima e suas investidas para se instalar nos territórios seja em nível local, estadual, nacional e/ou internacional.
“É um absurdo as termelétricas estarem sendo implantadas, aterrando os manguezais. Além disso, a quantidade de petróleo em terra e a falta de responsabilidade mínima na exploração do petróleo estão destruindo o meio ambiente, tanto no lençol freático quanto na superfície, onde ocorreu vazamento de óleo”, critica Manoel. “Quando passamos de carro no asfalto, vemos a quantidade de vazamento. Não podemos nem imaginar o que não conseguimos ver. Então, eu pergunto: onde estão nossas autoridades brasileiras, o Ministério Público, o governo, qualquer entidade que deveria se preocupar com o nosso meio ambiente? Estamos vendo a comunidade sendo prejudicada, mesmo em um local com muita água, onde ainda vemos pessoas sem acesso à água” completa.
Por fim, o seminário trouxe visibilidade e lugar de fala para os povos tradicionais que não eram reconhecidos e muito menos escutados, e mostrou o quanto a exploração tem matado comunidades, territórios, florestas, rios e mares. E foi produzida uma carta política, para reforçar a campanha antipetroleira. Conheça e assine no link abaixo:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScgO0GPq0kqyXS7VSmQm3z58hAszngPhtpvXEXlhzLBP4Emkw/viewform
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