Campanha Nem Um Poço a Mais reúne ativistas, movimentos sociais e organizações no Espírito Santo para debater os impactos da indústria petroleira

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Ativistas de movimentos, coletivos e organizações da Campanha Antipetroleira Nem Um Poço a Mais. | Foto: Isabelle Rodrigues

O 9° Seminário da Campanha AntiPetroleira Nem Um Poço a Mais, realizado entre os dias 27 e 30 de março, no Espírito Santo, reuniu cerca de 100 participantes de 11 estados brasileiros, além de representantes da Argentina e do Peru. A iniciativa, promovida pela FASE Espírito Santo, que faz parte da campanha desde a sua criação, teve[...]

25 de abril de 2025
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O 9° Seminário da Campanha AntiPetroleira Nem Um Poço a Mais, realizado entre os dias 27 e 30 de março, no Espírito Santo, reuniu cerca de 100 participantes de 11 estados brasileiros, além de representantes da Argentina e do Peru. A iniciativa, promovida pela FASE Espírito Santo, que faz parte da campanha desde a sua criação, teve o objetivo de refletir acerca das graves consequências da atuação de indústrias petroleiras em âmbito  nacional e internacional a partir do ponto de vista dos territórios, de suas populações e de seus modos de vida. Entre os destaques da programação, estão oficinas temáticas, mesas de conjuntura, diplomação aos alunos do l Curso de Ativismo Antipetroleiro  e debates sobre estratégias de fortalecimento da luta de movimentos sociais e defensores(as) de direitos humanos.

A indústria de petróleo brasileira vive um momento de expansão acelerada, com a perspectiva de aumento significativo na exploração em diversas regiões do país. Hoje, com metas e subsídios do governo federal para dobrar a sua produção, o projeto se estende nacionalmente para novas fronteiras petrolíferas, como a foz do rio Amazonas, com planos de leiloar 332 novos poços em junho de 2025.

Daniela Meireles, coordenadora da FASE Espírito Santo, na abertura da plenária do seminário. | Foto: Isabelle Rodrigues

Em um contexto de emergência climática extrema cada vez mais frequente, Daniela Meireles, coordenadora da FASE Espírito Santo, aponta a importância das lutas populares e territoriais no enfrentamento a este cenário. “É preciso constituir e fortalecer essa resistência desde os territórios, desde os movimentos e organizações de base que já vêm fazendo esse enfrentamento com muitas ameaças, com muitas situações de riscos e violações aos seus territórios, violências à natureza e aos direitos humanos como um todo. Então, a campanha vem se propondo a fazer essa luta nesse momento que é cada vez mais necessário construirmos conjuntamente estratégias de resistência”, afirma.

O Espírito Santo, terceiro maior produtor de petróleo e gás do Brasil, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo, está no centro de uma expansão acelerada da indústria petroleira, cujos impactos ultrapassam os limites econômicos e atingem de forma profunda o meio ambiente e os modos de vida de populações tradicionais. Responsável direta pelo aquecimento global e pela destruição de ecossistemas e biomas, a cadeia do petróleo é uma das mais contaminantes do planeta. No Brasil, já são cerca de 7 mil poços em operação, com milhões de barris extraídos diariamente, tanto em terra quanto no mar. Para além dos poços, a infraestrutura que sustenta essa atividade inclui uma extensa rede de portos, dutos, terminais, plataformas, caminhões e navios que atravessam e impactam diversos territórios. A expansão, incentivada por metas ambiciosas e subsídios federais, ameaça novas regiões e torna ainda mais urgente o fortalecimento das lutas populares que denunciam as violações socioambientais e exigem alternativas para os territórios impactados.

A participação de lideranças populares no seminário reforçou o papel fundamental das comunidades tradicionais na linha de frente da resistência à expansão petroleira. Néia Vieira, pescadora e marisqueira de Cariacica (ES), militante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Nacional e presidente da Associação dos Pescadores Artesanais de Porto de Santana e Adjacências, destacou a importância da campanha como instrumento de conscientização e mobilização coletiva. “É de grande importância a gente estar participando dessa campanha Nem um Poço a Mais. Porque às vezes eu pergunto: pra que mais um poço? O mundo está muito ‘petrolizado’. A gente tem que tentar ‘despetrolizar’ essa questão. Nós aqui somos multiplicadores e levamos informações para a nossa base. Eu levo pra minha base da pesca, das marisqueiras, a importância de enfrentar esse impacto que vai chegar para dentro das nossas comunidades. A gente se preocupa muito em relação ao meio ambiente, porque nós somos guardiões do meio ambiente”, relata.

Neste cenário, a FASE Espírito Santo atua na defesa dos direitos humanos ao lado das populações tradicionais no enfrentamento aos impactos sociais e ambientais da atuação de petroleiras. Durante o seminário, uma das atividades contou com visitas de campo a territórios em conflito com a indústria do petróleo em Aracruz, Linhares e São Mateus, com rodas de conversa entre os participantes e as comunidades locais.

A presença de representantes de comunidades impactadas de diversas regiões do país reforça a abrangência e a importância da Campanha Nem Um Poço a Mais na construção de uma resistência territorial enraizada. Robério Manoel da Silva, quilombola do Território Pontal da Barra, em Barra dos Coqueiros, Sergipe, compartilhou a realidade enfrentada por sua comunidade, que há décadas convive com os efeitos nocivos da exploração de petróleo. “São 230 famílias que sofrem o impacto. Desde que eu moro lá que eu conheço o impacto do derramamento de petróleo. O maior derramamento aconteceu em 2019, que foi quando atingiu todo o Nordeste”, conta. Robério acompanha a campanha desde 2022, marcando presença em diversas edições e fortalecendo o intercâmbio entre territórios. “Essa é a quarta edição que eu venho, então a gente já tem um longo andamento juntos nessa luta”, relata.

Mesa de debate sobre a conjuntura política e ambiental brasileira. | Foto: Isabelle Rodrigues

A Campanha Nem Um Poço a Mais tem se consolidado como uma iniciativa fundamental na luta contra a expansão da indústria petroleira, articulando territórios, saberes e resistências em nível nacional e internacional. Para Letícia Tura, diretora executiva da FASE, a campanha se destaca por sua abordagem inovadora, centrada nas vozes e nas experiências das populações diretamente afetadas. “Ela busca trabalhar diretamente com as populações a partir de suas experiências e construir intercâmbios entre populações que são atingidas pelo petróleo no Espírito Santo, na Bahia, também em Pernambuco, em outros países da América Latina, como no Peru e na Argentina, que estão aqui hoje”, explica. A proposta da campanha vai além da denúncia dos impactos: ela evidencia a necessidade de uma mudança estrutural no sistema. “Não é só uma questão de fonte de energia, mas sim de escala e dos impactos que essa fonte de energia causa sobre os territórios”, afirma Letícia. Nesse sentido, a campanha denuncia os limites de uma transição baseada apenas em novas tecnologias, sem enfrentar os modelos predatórios de produção e consumo que ameaçam vidas, culturas e ecossistemas.

Ao lado de Letícia, o seminário contou ainda com uma mesa de conjuntura política e ambiental sobre os dois anos de mandato do presidente Luis Inácio da Silva, com a presença de Selma Selma Dealdina, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Camila Valadão, deputada estadual pelo PSOL, Marcos Pedlowski professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Os debates reforçaram uma crítica à expansão petroleira do governo Lula e a emergência de deixar o petróleo no subsolo, pela proteção dos territórios tradicionais e a transição do sistema capitalista.

Para saber mais informações sobre a Campanha Antipetroleira Nem Um Poço a Mais, acesse o site e o instagram da iniciativa.

*Coordenadora de Comunicação da FASE

Reprodução Site Ong Fase

 

 

 

 

 

 

 

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